Instrutora de Yoga desenvolve aulas gratuitas para pessoas com espondilite – Gisele Comparin Neves, gaúcha, instrutora de Yoga 33 anos, se formou em radiologia e atuou na área, posteriormente designer de interiores, atualmente trabalha numa empresa que atua com mobiliário ergonômico e como instrutora de Yoga.
Instrutora de Yoga desenvolve aulas gratuitas para pessoas com espondilite
Cursei radiologia e trabalhei em um hospital por mais ou menos 4 anos, por adversidades da vida mudei de profissão. Sou designer de interiores, mas atualmente trabalho como gerente de contas em uma empresa que vende mobiliários ergonomicamente corretos, para projetos corporativos.
A minha vida toda sempre foi muito agitada, eu fazia muitos exercícios, dançava, estava sempre ativa. Sempre senti dores fortes na região sacral mas não dava atenção, eu achava que eram apenas dores musculares, pela prática frequente de atividades físicas, por algumas vezes fiquei muito debilitada, chegando a ficar sem alguns movimentos, nesta época eu tinha por volta de 24 anos.
Eu fui em vários médicos e todos falavam a mesma coisa: “você não tem nada, é apenas uma dor muscular.” Me davam analgésicos e me mandavam embora, sem exames e sem repostas, os anos se passaram e eu aprendi a conviver com a dor.
Em torno de 4 anos atrás, as dores voltaram com força total, até me deixar com limitações no quadril, fiquei com dificuldade de caminhar e com uma deformidade que percebi na área do quadril.
Fiquei muito confusa, mas eu tinha que fazer alguma coisa, começou a minha peregrinação com médicos, exames e hospitais, encontrei uma médica que fez alguns exames e apenas falou que eu tinha um leve desgaste na articulação sacroilíaca e artrite.
Achei estranho mas acreditei, comecei a fazer o uso do remédio Azulfin (sulfasalazina), o meu martírio começou, o efeito foi ao contrario do esperado, ele potencializou as dores e aumentou a limitação de alguns movimentos.
Mesmo assim ela insistiu e aumentou a dose eu ficava debilitada em todos os sentidos, quase dois anos passados, fui a procura de outro médico, levei todos os exames e chegando no consultório ele logo falou: “Querida sinto lhe informar, você tem espondilite anquilosante e está aqui, em todos os exames, mesmo assim vamos refazer alguns e fazer outros.”
Foram mais seis meses de exames; idas e vindas ao consultório, o médico estava certo, era a EA. Logo no primeiro momento ele receitou o embrel, fiquei assustada mas enfrentei.
Como sou do Rio Grande do Sul e a minha família toda mora lá, eu passei por tudo isso sozinha, levei com fé e otimismo, o medo sempre batendo à porta, mas me mantive firme.
Comecei as aplicações, tive alguns efeitos colaterais, mas as dores diminuíram e eu fiquei empolgada, comecei a me sentir um ser humano novamente.
Mas apenas isso não bastava, eu queria voltar a ter o meu ritmo de vida, á ter qualidade de vida, fiz várias pesquisas na internet e li muitos artigos de origem estrangeira, para conhecer melhor os detalhes desta doença, me aprofundei e percebi que todos pacientes que tinham uma vida melhor, praticavam algum exercício sem impacto.
Tentei pilates e foi terrível, nenhum profissional respeitava a minha limitação e as minha dores, eu saia frustrada das aulas, me sentindo incapaz. Desisti.
Eu apenas fiquei com as caminhadas, um belo dia, eu vi na internet uma moça que ensinava acroyoga e eu me apaixonei, entrei em contato com ela e fiz alguma aulas, mas nosso corpo se torna frágil e não durou muito.
Pensei no yoga e fui atrás de um curso para ter formação como instrutora.
Hatha Yoga
Significado: Ha significa sol e é representado pelo sol do seu corpo, a sua alma. Tha significa lua, que representa a sua consciência, a sua mente. Então o Hatha Yoga é a busca do equilíbrio entre as forças solar e lunar, respectivamente masculina e feminina. Isto é conseguido através da união da mente com a alma.
Uma das características do Hatha Yoga é a plena atenção na ação, ou seja, se você está fazendo um asana (postura física) deve estar totalmente presente em todas as fases, que são: entrada, permanência e saída. Se você está praticando um pranayama (exercício respiratório) deve-se estar com plena atenção à respiração.
Hatha Yoga é uma linha muito centrada no trabalho de corpo, dá-se muita atenção ao correto alinhamento corporal durante o asana. Com o alinhamento quebram-se padrões corporais, que quebram padrões emocionais, que quebram padrões comportamentais. Todas essas quebras de padrões se dão porque se o corpo físico está alinhado com precisão, nossa respiração está alinhada com a mesma precisão, então a mente, as emoções e os sentidos entram em equilíbrio. A medida que o praticante de Hatha Yoga progride, ele se torna consciente de como os sentidos, a mente e a respiração devem ser utilizados para alinhar o corpo. Quer entender melhor? É bem simples, o objetivo é fazer o asana com o máximo de inteligência e amor. Traga a inteligência da tua mente até a energia do teu coração e deixe que a união dos dois te guie.
“O hatha yoga foi um presente na minha vida, nela eu aprendi que eu não preciso fazer malabarismo com o corpo para poder ter uma prática saudável. O yoga ensina e nos aceitar e a trabalhar o nosso melhor.”
EA Brasil: Como e por que você teve a idéia para desenvolver esse projeto?
Gisele C. Neves: O projeto da Yoga para pessoas com EA sempre esteve na minha mente desde a primeira vez em que um profissional não respeitou a minha limitação, a revolta foi tão grande que hoje estou concretizando o meu projeto de ajudar aos que passam pelo que eu passo.
Só quem tem sabe o que é, e ter uma instrutora que sinta a tua dor, tudo se torna mais fácil. Não existe limitação e sim, novas descobertas de para nós.
EA Brasil: Como você pretende dar continuidade a esse projeto?
Gisele C. Neves: O projeto é 100% gratuito para pessoas com EA, resolvi fazer dessa maneira, porque sei o quanto esta doença financeiramente é custosa, muitas vezes gastamos o que não temos para ter um diagnóstico, pensamos que tudo acabou e é aí que entro com este bem estar para os meus amigos da EA. Quero mostrar a eles que sim, é possível se sentir bem.
A EA sempre estará presente na nossa vida, ela nos lembra todos os dias que está lá, nos alfinetando, basta a nós sermos superiores a ela. Pensar: você não me domina.
EA Brasil: Qual será a periodicidade das aulas e onde serão?
Gisele C. Neves: Como estou na fase de adaptação de quantidade de pessoas e idades, farei uma vez por semana, sempre aos sábados à tarde, por volta das 16h ao ar livre e em contato com a natureza no Parque Ibirapuera.
EA Brasil: Quais são os benefícios da prática do Yoga para pessoas com EA?
Gisele C. Neves: Os benefícios do yoga são diversos: equilíbrio, melhora na respiração, consciência corporal, melhora do tónus muscular, concentração, percepção, entre outros.
EA Brasil: Todas as pessoas com espondilite anquilosante podem fazer Yoga?
Gisele C. Neves: Todos os portadores de EA podem praticar yoga, mas sempre na presença de um profissional que conheça as limitações e as dores.
EA Brasil: Existem contra-indicações para pessoas com espondilite? Mesmo na crise da doença é possível fazer Yoga?
Gisele C. Neves: Falar sobre contra indicação é delicado, tudo depende de como será orientada a aula, mas existe e mesmo com crise é possível praticar o Hatha yoga. Repito; o yoga não é apenas a parte corporal que as revistas vendem.
EA Brasil: Quais tipos de vestimentas ou equipamentos é necessário para praticar Yoga no projeto?
Gisele C. Neves: Para a prática do Hatha yoga, o aluno deve estar com roupas leves e que permitam o movimento corporal, aos portadores de EA, aconselho sempre estar agasalhado e com meias antiderrapantes, levar almofadas (se tiver dificuldade de sentar numa superfície dura), canga ou se tiver, mat (aquele tapetinho que vemos nas fotos e na televisão). Levar também água, para se hidratarem.
As aulas são no parque Ibirapuera em São Paulo, sábados as 16h ou a critério do grupo pode haver mudanças, para saber mais e se inscreverem, fale in-box via facebook com a idealizadora do projeto Gisele C. Neves clicando aqui.
“O Hata yoga foi um presente na minha vida, nela eu aprendi que eu não preciso fazer malabarismo com o corpo para poder ter uma prática saudável. O yoga ensina e nos aceitar e a trabalhar o nosso melhor.”
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